02 novembro, 2006

Luis Plínio de Oliveira: notas biográficas

O Primeiro Presidente da E. F. do Norte


O Comendador Luiz Plínio de Oliveira (06.07.1834 – 22.05.1909) foi o primeiro presidente da empresa constituída em novembro de 1883 para construir e explorar uma ferrovia ligando a cidade do Rio de Janeiro à raiz da serra de Petrópolis: a Estrada de Ferro do Norte. A concessão havia sido aprovada no ano anterior em favor do cidadão Abílio Luiz Pereira da Silva.

O presidente da E. F. do Norte nasceu no Rio de Janeiro, filho do Conselheiro Candido Batista de Oliveira, gaúcho de Porto Alegre (1801-1865) e de Ana Chagas. O pai, formado na Universidade de Coimbra em matemática e filosofia, havia sido uma importante figura do Império, tendo ocupado inúmeros postos no governo. Foi embaixador, ministro, deputado, senador e professor. Uma das atividades em que mais se destacou, desde 1826, foi voltada para a adoção do sistema métrico, proposta que finalmente tornou-se lei em 1862. Entretanto, Candido não chegou a ver a sua implantação efetivada, tendo falecido no ano de 1865, quando era senador. O sistema métrico seria colocado em operação apenas em 1872.

A carreira pública de Plínio de Oliveira não seria tão brilhante quanto a do pai. Em 1860 era um 2º Oficial no Ministério dos Estrangeiros (Relações Exteriores) onde ficou até 1865. Nesse ano foi convidado para assumir a Diretoria dos Correios, órgão subordinado ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Sua nomeação teria sido justificada por um estudo que havia publicado em 1862 sobre a organização dos serviços dos correios da Inglaterra e da França. O relatório de 1866 do ministro Antonio Francisco de Paula Souza (1819-1866), não lhe poupava elogios:

“Convencido de que o serviço do correio é um dos ramos da administração pública que mais desvelos deve merecer os poderes do estado, tratei de dar execução ao decreto nº 3443 de 12 de abril de 1865, que aprovou o novo regulamento postal do império. Convencido, ainda, de que a perfeição deste serviço muito depende do conhecimento prático do jogo material das diferentes partes do mecanismo, de que se compõem esta repartição, e havendo ficada extinta a 4ª diretoria desta Secretaria de Estado, coloquei à testa da administração do correio o Sr. Luiz Plínio de Oliveira, o qual às habilitações especiais adquiridas em diversos países da Europa reunia um zelo, dedicação ao trabalho e traquejo dos negócios tão notáveis como sua modéstia e probidade”.

Plínio de Oliveira parece ter-se dedicado com afinco às suas novas responsabilidades ficando no cargo durante quinze anos, até 1880. Durante a sua gestão deu-se a implementação de importantes inovações nos serviços postais brasileiros. Logo em 1866 foram lançados os primeiros selos picotados e os selos contendo a efígie do Imperador Pedro II. Em 1872 é a vez do lançamento dos primeiros cartões postais ilustrados. Os primeiros selos postais em duas cores foi uma inovação lançada no ano de 1878. Dois anos depois os bilhetes postais foram instituídos no Brasil.

Tais realizações renderam ao Diretor dos Correios algumas condecorações. Foi Moço Fidalgo com exercício na Casa Imperial, Comendador da Real e Distinta Ordem Espanhola de Carlos III, da Real Ordem Belga de Leopoldo, Prussiana da Coroa e da Coroa Italiana.

A gestão de Plínio de Oliveira à frente da Estrada de Ferro do Norte foi bem mais curta que nos Correios. Durou até o mês de abril de 1888, quando ficou concluído o trecho final da ferrovia, ligando a Vila do Pilar ao entroncamento com a ferrovia que havia sido inaugurada em 1854 pelo Barão de Mauá. [Esse entroncamento fica onde é hoje a estação de Piabetá.] Na data da inauguração já estavam finalizadas as negociações de venda da estrada para a firma inglesa “The Rio de Janeiro & Northern Railway”. Sua época foi, portanto, a da construção da estrada, ainda que nesse período a ferrovia já conseguisse obter receitas crescentes apenas com o transporte de passageiros dos subúrbios do Rio de Janeiro.

Durante sua administração a empresa enfrentou alguns processos judiciais decorrentes do andamento das obras. O mais importante deles foi o que envolveu a construção de um conjunto de pontes sobre o rio Iguaçu, no ano de 1886. A polêmica se deu porque os moradores da região viram-se impedidos de continuar utilizando o rio para a navegação dos saveiros, embarcações com mastros mais altos para transporte de carga até o porto do Rio de Janeiro. A disputa foi acirrada e apesar do grande poder que as ferrovias tinham naquele período a justiça deu ganho de causa aos antigos usuários do rio. Mas a questão só foi encerrada em 1898, quando aquela estrada já estava sob controle da “The Leopoldina Railway”. Sem acordo, executou-se a demolição da ponte construída sobre o canal do mencionado rio, tendo que ser feita uma nova, porém com uma viga levadiça para dar passagem aos saveiros.

Ao que parece, as atividades profissionais do Comendador e de outros membros da sua família tinham profundas ligações com o setor de transportes. Seu pai chegara a obter, em 1856, uma concessão para explorar uma linha de bondes no Jardim Botânico, mas o projeto acabou sendo transferido para o Barão de Mauá, em 1862. Um dos irmãos de Plínio de Oliveira, Januário Candido de Oliveira, era engenheiro e havia sido funcionário da Central do Brasil, em meados de 1860. Em 1872 Januário e um outro irmão, Eugênio Batista de Oliveira, obtêm a concessão para constituir um serviço de bondes e o plano inclinado de Santa Tereza, o único ainda em atividade naquela capital. As próprias atividades de Plínio de Oliveira nos Correios eram, em sua essência, o gerenciamento do transporte e distribuição de correspondência, embora utilizando em grande parte meios de terceiros. Plínio ainda conseguiria, no ano de 1886, através da E. F. do Norte, a concessão para a construção de um ramal ligando um ponto nas imediações da rua Mariz e Barros ao alto da Boa Vista, na Tijuca, num trecho de 7.900 metros. Essa concessão seria transferida em 1890 para a E. F. da Tijuca.

Luiz Plínio foi casado com Maria Carolina Torres (1847-1885), filha do Barão de Itambi, Candido Rodrigues Torres (1806-1877). Faleceu no Rio de Janeiro, a 22 de maio de 1909, aos 74 anos.

(texto revisado em 19/11/2006)



Bibliografia:
Almanak Laemmert, R.Janeiro, Tip.Laemmert, várias edições
Barata, Carlos Eduardo e Bueno, Antônio da Cunha Dicionário das Famílias Brasileiras. Ed. Árvore da Terra. 2001. 2 v. (verbetes “Oliveira” e “Torres Oliveira”)
Blake, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionario Bibliografico Brasileiro.Rio de Janeiro. Tip. Nacional, 1883-1902. 7 v
Brasil, Min.Agricultura, Comércio e Obras Públicas, R. Janeiro, várias edições
Brasil, Senado Federal.
http://www.senado.gov.br/sf/senadores%20acessado%20em%20out.2006
Dias, José Luciano de Mattos. Medida, normalização e qualidade; aspectos da história da metrologia no Brasil. Rio de Janeiro: Ilustrações, 1998. 292 p. Disponível em
http://www.inmetro.gov.br/noticias/livrometrologia.asp acessado em out/2006.
Jornal do Comércio, R.Janeiro, edição do dia 23/05/1909, p.13
Santos, Francisco A. de Noronha. Meios de Transporte no Rio de Janeiro, R.Janeiro. Tip.Jornal do Comercio. 1934. 2 vol.

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