13 novembro, 2006

Eng. Marcelino Ramos da Silva: notas biográficas

O construtor da Estrada de Ferro do Norte

O Engenheiro Marcelino Ramos nasceu no Rio de Janeiro, a 2 de agosto de 1844. Era filho do comendador Tristão Ramos da Silva e de Joaquina Luiza de Oliveira.

Dedicou grande parte de sua carreira à construção ferroviária, tendo sido durante muitos anos funcionário da Estrada de Ferro D. Pedro II (Central do Brasil). Por volta de 1870 ocupava um posto de Condutor de 1ª Classe. Nos dois últimos anos (1880/1881) em que trabalhou nessa estrada Marcelino Ramos era chefe de seção em Entre-Rios, na divisão responsável pela via permanente, chefiada pelo engenheiro João Teixeira Soares.

No ano de 1874 foi requisitado para compor uma comissão incumbida de estudar e propor um plano geral de melhoramentos para a cidade do Rio de Janeiro, sob os aspectos de urbanismo e saneamento. Faziam parte dessa comissão o engenheiro-militar Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim, então chefe da Inspetoria de Obras Públicas (repartição que mais tarde se transformaria no Ministério da Viação e Obras Pública, dos primeiros tempos da República), e o também engenheiro Francisco Pereira Passos, que duas décadas mais tarde, no cargo de prefeito, implementou grandes reformas que a cidade necessitava.

A partir de 1882 Marcelino dedica-se à construção de ferrovias privadas. Entre 1882 e 1883 esteve envolvido, juntamente com o engenheiro Joaquim Lisboa, na construção da Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, na serra de Petrópolis, que dava continuidade ao projeto do Barão de Mauá iniciado em 1852-1854. Essa estrada era a primeira a utilizar no país o sistema de cremalheira “Riggenbach” para vencer a forte inclinação da via, sistema depois utilizado na E. F. do Corcovado, por Pereira Passos e Teixeira Soares.

Nos anos seguintes está engajado nas obras da Estrada de Ferro do Norte, projetada por Jerônimo Jardim, que ia de São Francisco Xavier até o entroncamento com a citada estrada de Mauá. Essa ferrovia, cruzando a baixada da Guanabara em territórios que hoje pertencem ao município de Duque de Caxias, teve o seu trecho final inaugurado em abril de 1888.

Quando foi proclamada a República, Marcelino foi um dos signatários de uma manifestação de apoio ao governo provisório promovida pelo Clube de Engenharia, em sessão realizada no dia 19 de novembro de 1889.

Em 1894 é organizada pelo governo a Comissão de Estudos e Saneamento da Baixada Fluminense, com a intenção de buscar soluções para o grave problema das áreas inundadas que eram um grande foco para a malária. Marcelino assumiu a chefia dessa comissão quando João Teixeira Soares deixou o posto.

Anos mais tarde assumiu o encargo de executar as obras de um trecho da ferrovia São Paulo – Rio Grande do Sul. Era um projeto de seu amigo Teixeira Soares, cujo objetivo era ligar a cidade do Rio de Janeiro, já conectada com São Paulo por via férrea, às regiões de fronteira no sul do país, cruzando o interior do Paraná e de Santa Catarina. O trecho que coube a Marcelino, de 179,9 quilômetros, ligava a cidade de Passo Fundo ao rio Uruguai, na fronteira com o estado de Santa Catarina.

As obras foram concluídas em outubro desse mesmo ano, e em dezembro ficou pronta a ponte provisória que ligava essa estrada ao trecho também concluído no estado de Santa Catarina. Seria seu último trabalho. Nesse mesmo mês de dezembro, no dia 26, Marcelino Ramos faleceu, no Rio de Janeiro.

Em sua homenagem a estação próxima ao rio Uruguai, no trecho que ele havia construído foi batizada com o seu nome. Hoje é um importante município daquele estado.



Bibliografia:
Almanak Laemmert, Rio de Janeiro, várias edições,
Barata, Carlos Eduardo e Bueno, Antônio da Cunha Dicionário das Famílias Brasileiras. Ed. Árvore da Terra. 2001. 2 v. (verbetes “Oliveira” e “Torres Oliveira”)
Brasil, Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Relatório Anual, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, várias edições
Figueira, Manuel Fernandes. Memória histórica da estrada de ferro central do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 960 p
Rodrigues, Helio Suêvo. A formação das Estradas de Ferro no Rio de Janeiro: o resgate de sua memória. Rio de Janeiro, Memória do Trem, 2004. 192 p.
Telles, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX. R.Janeiro, Liv.Tecnicos e Científicos. 1984, 510 p.